terça-feira, 8 de outubro de 2013

Duas ou Três Coisas que Eu Sei Dela, de Godard, 1967


Uma outra aula bem interessante que tenho esse trimestre no Mestrado de Cine é sobre cinema nas salas de exposição, cinema nos museus, com o professor espanhol Carles Guerra. O que os museus exibem com mais frequência, como bem sabem, são ensaios, videoarte e documentários, pela propriedade crítica e reflexiva típicas desses produtos audiovisuais.
Para dar início a essas aulas, Guerra sugeriu trabalharmos com o filme "Duas ou três coisas que eu sei dela", de Jean-Luc Godard, de 1967. Pode ser visto online, com legenda em português, no link abaixo:



Esse filme foi inspirado por 2 artigos escritos pela jornalista Catherine Vimenet sobre prostituição nos subúrbios. "O "Dela" no título do filme se refere à Paris dos anos 60, um retrato da sociedade de consumo, em meio à pobreza das massas e conflitos como a Guerra do Vietnã. Um dos exemplos dessa atmosfera é Vlady, uma dona-de-casa que se divide entre cuidar da família e a prostituição, o meio mais fácil que encontra para poder ganhar dinheiro e satisfazer suas necessidades mais frívolas", conforme citado no site: 


Trata-se de um filme que não se pode classificar como ficção nem documentário. Godard rompe com os padrões e propõe um ensaio, um filme reflexivo. Depois de produzido o filme inclusive provocou debates sociais sobre a mulher, sobre o corpo da mulher na sociedade capitalista como algo rentável. Houve programas de tv com debates, como no link abaixo, em que também acontece uma entrevista realizada por Godard a uma jovem francesa que se prostituía esporadicamente, assim como a personagem principal de seu filme. Veja o programa:




Carles Guerra escreveu um artigo bem interessante sobre a sequência 5, plano 1, desse filme. Um plano sequência largo em que a protagonista leva sua filha pequena para que um senhor tome conta enquanto ela vai se prostituir. Esse mesmo senhor em sua casa cuida de outras crianças e aluga os quartos para prostituição. Um bela reflexão sobre tempo e espaço na sociedade capitalista contemporânea. Vale dar uma lida no artigo de Guerra: 




De uma maneira geral vejo no filme uma artificialidade nos atores, nos planos, na forma em que é trabalhado o som e a imagem, como se tudo estivesse deslocado nessa sociedade apresentada por Godard. As pessoas parecem mecânicas, alheias ao espaço em que ocupam, uma relação interessante com o estilo de vida capitalista que transparece brilhantemente na proposta de linguagem do diretor.







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