Depois de um período pouco motivador nas aulas, volto com
“Queridisimos verdugos”, um documentário espanhol, escrito e dirigido por
Basilio Martín Patino, entre 1971 y 1973. O diretor teve que esperar a morte do
ditador Franco e o término da pena de morte na Espanha para seu lançamento em
1977.
Este filme faz parte de uma trilogia de documentários que escolhi
trabalhar para minha tese do Mestrado de Cinema, pois compartilham um conteúdo
comum: a execução humana. Os outros dois filmes sobre os quais falarei depois são: “The act of killing", de
Joshua Oppenheimer e “S21”, de Rithy Panh. Esta escolha não foi feita porque me
interessa esse assunto, mas pelo interessante que é ver três diretores
abordando um tema tão difícil de maneira tão diferente e como isso também é
recebido de forma distinta pelo público. Os três documentários se desenvolvem a partir do ponto de vista dos
executores, mas naturalmente sabemos que por traz existe um diretor decidindo
tudo e que, em geral, sabe bem o que quer.
No documentário de Patino seus protagonistas são três “verdugos”, em português “carrascos” ou, se utilizamos o termo oficial, “agentes executores de sentenças”: Antonio López Sierra, Vicente López Copete e Bernardo Sánchez Bascuñana.
“Queridisimos verdugos” começa com uma trilha religiosa e imagens
de cobertura que ilustram o que o primeiro personagem conta sobre sua vida. A música cristã remete ao tema do pecado e nos leva a imaginar que os
personagens que se apresentam estão envolvidos em algo que clama por perdão.
Nos primeiros 5 minutos, fica claro que o diretor irá trabalhar um
estilo clássico de documentário, estruturado por entrevistas, imagens de
cobertura, trilha e vozes em off que trazem algumas explicações históricas e
fazem as conexões entre uma sequência e outra.
Uma coisa interessante dessa abertura é que o diretor opta por começar
o filme apresentando a história desse primeiro personagem. Ele conta um pouco
de como veio a se tornar um executor de sentença, uma tentativa talvez de fazer
o espectador entender que esses funcionários da justiça não escolhiam por vontade própria
seguir esta profissão, mas que as condições precárias de vida na época da
ditadura franquista na Espanha os colocavam sem muita opção e como executores
teriam ao menos o que comer e como sustentar suas famílias. Abrir o
documentário dessa forma também já deixa claro que o filme será baseado no que
contam seus personagens, sob o ponto de vista deles e que o diretor aparentemente,
pouco intervirá.
O filme segue e o segundo carrasco se apresenta, também conta um
pouco de sua história e vemos mais fotos e ilustrações antigas como cobertura.
Na apresentação do terceiro a trilha fica ainda um pouco mais fúnebre, com o
tema do “Fantasma da ópera” tocado por aqueles órgãos enormes de igrejas
antigas, típicos da liturgia cristã. O clima fica tenso.
Depois dos “verdugos” se apresentarem como cidadãos de bem que
cumprem ordens e de se afirmarem como bons cristãos, o diretor usa como sobe
som uma música cigana em que a letra chama um dos executores de assassino frio
que mata sem pesar e que depois ainda fuma tranquilamente seu cigarro. Esse
sobesom foi uma forma encontrada pelo diretor para apresentar o ponto de vista
dos moradores da região sobre o tal agente de sentença e seu “dever”. Em seguida
eles começam a relembrar os casos e locais onde aconteceram algumas execuções.
Aos 19 minutos de filme entra uma voz em off sobre o estrangulamento e suas técnicas e, em seguida, dois dos carrascos simulam como funcionava o aparato mais usado na Espanha, o garrote vil. O terceiro carrasco, este parece ser o que mais se afeta emocionalmente com as execuções, complementa que é um método que proporciona uma morte rápida e pouco sofrida. De fato não parece existir sadismo nos carrascos quando eles falam sobre suas técnicas, mas existe uma naturalidade assustadora ao tratar o assunto. Um dos verdugos fala que é como matar um cordeiro num matadouro, pois ele não sabe nada sobre o reú e tampouco o preso nunca teria feito nada contra ele.
Aos 19 minutos de filme entra uma voz em off sobre o estrangulamento e suas técnicas e, em seguida, dois dos carrascos simulam como funcionava o aparato mais usado na Espanha, o garrote vil. O terceiro carrasco, este parece ser o que mais se afeta emocionalmente com as execuções, complementa que é um método que proporciona uma morte rápida e pouco sofrida. De fato não parece existir sadismo nos carrascos quando eles falam sobre suas técnicas, mas existe uma naturalidade assustadora ao tratar o assunto. Um dos verdugos fala que é como matar um cordeiro num matadouro, pois ele não sabe nada sobre o reú e tampouco o preso nunca teria feito nada contra ele.
Em 35 minutos o diretor começa a apresentar outros pontos de vista: um especialista, um advogado e um psiquiatra, assim como um geneticista que cita que alguns criminosos possuem um cromossomo a mais.
Qual seria a intenção do diretor ao introduzir estas sequências? Gerar reflexão
sobre a possibilidade de alguns réus não serem culpados por seus crimes por
poderem apresentar uma anomalia genética? Isso os deveria livrar da execução? O filme segue com os executores contando os crimes horríveis cometidos pelos presos que
eles executaram. Seria uma tentativa de justificar a execução e seus
respectivos ofícios? O documentário acaba gerando uma reflexão profunda sobre a
pena de morte e suas consequências sociais.
Chega um momento em que são contados uma série de crimes contra
meninas e crianças, barbaridades. Naturalmente isso provoca no espectador uma
indignação em relação aos criminosos e nos coloca de certa forma do mesmo lado
dos verdugos. Ao mesmo tempo, em vários momentos os executores relatam que os réus pedem piedade
e eles comentam que estão apenas cumprindo ordens. O documentário vai construindo uma constelação de argumentos em que nós, espectadores, nos sentimos os verdadeiros juízes.
Nos momentos em que os verdugos estão contando os episódios, eles estão
sempre sentados bebendo, fumando e também comendo, como quem conversa sobre uma
partida de futebol ou uma notícia do jornal. Essa estratégia de deixá-los à
vontade conversando e até bêbados, neutraliza a posição do diretor que não
parece intervir nem provocar os temas, o que com certeza aconteceu mas que
depois foi editado e escondido através das imagens de cobertura que muitas vezes
aparecem apenas para cobrir um corte sem agregar muita informação.
Enfim, “Queridisimos verdugos” é um documento real sobre uma época
triste da Espanha que merece reflexão e o filme conduz isso muito bem. Apesar da
falta de legenda em outros idiomas e do sotaque espanhol puxado, vale o
esforço. Assistam e comentem!
Do carambas didi! Beijo Fabio Brasil
ResponderExcluirGostou Fabinho? Viu o filme? Como tá por aí? Bjs
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